A tireoide, uma pequena glândula localizada na base do pescoço, pode ser acometida por inúmeras patologias, como nódulos benignos, cistos e tumores malignos, que impactam de forma significativa a qualidade de vida de milhares de pessoas. Tradicionalmente, o tratamento de referência para nódulos volumosos e malignidades era cirúrgico. Contudo, inovações tecnológicas e o desejo crescente por procedimentos menos invasivos estimularam o desenvolvimento de técnicas modernas, como a ablação, mudando o cenário do tratamento tireoidiano.

É fascinante acompanhar este movimento — especialmente por entender que muitos pacientes sentem grande apreensão diante da palavra “cirurgia”, preocupam-se com o pós-operatório, cicatrizes, uso de hormônios e possíveis complicações. Por isso, acredito que falar sobre ablação, suas indicações, fundamentos, técnicas e resultados é essencial, esclarecendo dúvidas e contribuindo para uma tomada de decisão mais informada e tranquila.

Sou Dr. Yuri Goersch, cirurgião de cabeça e pescoço, em Passo Fundo/RS, e sou especialista no diagnóstico e tratamento de doenças da glândula tireoide.
Atendo no meu consultório particular em Passo Fundo, e sou membro do corpo clínico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HCPF) e Hospital São Vicente de Paulo (HSVP).
Assim como os endocrinologistas, os cirurgiões de cabeça e pescoço também são especialistas em tireoide, sendo que este é o nosso principal órgão de atuação, sendo a cirurgia de tireoide as cirurgias mais realizadas por nós. Outra opção mais nova de tratamento para algumas doenças da tireoide é a ablação de tireoide, um procedimento moderno que também tenho habilitação para realizar.
Sou formado em cirurgia de cabeça e pescoço por um dos principais serviços de formação na especialidade do Brasil, o Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), onde aprendi com profissionais de renome internacional e adquiri experiência prática para tratar as doenças da tireoide conforme o que tem de mais atual no conhecimento médico.
Se você possui alguma doença da tireoide, venha se consultar comigo para avaliarmos seu caso de maneira individualizada e decidirmos juntos qual a melhor estratégia para seu tratamento.
A ablação nada mais é do que a destruição seletiva de tecido tireoidiano “doente”, sem necessidade de cortes ou remoção completa da glândula. Essa estratégia terapêutica é guiada por imagem, geralmente pelo ultrassom, e se baseia no princípio de lesar o nódulo por meio de calor ou, em alguns casos, por agentes químicos. Ao contrário do passado, quando as alternativas entre monitoramento e cirurgia pareciam extremas, a ablação surge como um caminho intermediário — seguro, eficaz e sem grandes traumas.

Em minha vivência cotidiana, percebo o quão transformador é para o paciente saber que existe uma opção minimamente invasiva, geralmente feita sob anestesia local, sem necessidade de internação longa ou afastamento prolongado das atividades. Mais do que tecnologia, a ablação representa uma mudança de filosofia no cuidado: há respeito pela integridade da glândula, com preservação de sua função e minimização do impacto estético.
Os fundamentos da ablação repousam nos avanços de engenharia médica — eletrodos, sondas de micro-ondas, fibras ópticas e cateteres ultrafinos — todos projetados para entregar energia de modo preciso e dosado. É importante ressaltar que a ablação é sempre realizada por profissionais experientes e após criteriosa avaliação do caso, já que o sucesso e a segurança do procedimento dependem da seleção adequada dos pacientes e do domínio da anatomia cervical.
A indicação de ablação deve ser resultado de abordagem individualizada, respeitando as particularidades clínicas e expectativas de cada pessoa. Na minha rotina profissional, listo como principais candidatos à ablação:
Pacientes com nódulos benignos, comprovados por punção e análise citológica, que geram sintomas compressivos, desconforto ao engolir ou insatisfação estética.

Indivíduos portadores de cistos tireoidianos recorrentes, que reaparecem mesmo após drenagem e punção.
Pacientes com contraindicações ao ato cirúrgico convencional (como doenças cardiovasculares, idade avançada, distúrbios da coagulação, etc.).
Aqueles que desejam evitar cicatrizes ou uso crônico de hormônio tireoidiano.
Nos últimos anos, a ablação também passou a ser explorada em cenários selecionados de microcarcinoma papilífero (tumores menores, sem sinais de invasão ou metástase), principalmente para pacientes que optam por evitar cirurgia, ou apresentam elevado risco cirúrgico. É um avanço promissor, porém que demanda seguimento rigoroso e ampla discussão dos riscos e benefícios.
Vale frisar que a avaliação para indicação deve incluir sempre exame de ultrassom cervical detalhado, análise citológica dos nódulos (idealmente Bethesda II para benignos) e, por vezes, exames adicionais para descartar focos tumorais suspeitos ou invasão linfonodal.
Várias formas de ablação estão disponíveis, cada uma com suas especificidades e eficácia comprovada. São elas:
- Ablação por Radiofrequência (ARF): Utiliza um eletrodo fino que libera energia térmica, aquecendo e destruindo progressivamente as células do nódulo. O controle por ultrassom permite precisão absoluta, e a área tratada vai sendo “desenhada” conforme a resposta do tecido.
- Ablação por Micro-ondas (AMO): Semelhante à radiofrequência, mas utilizando radiação de micro-ondas para gerar calor intenso, possibilitando tratar nódulos maiores em tempo reduzido.
- Ablação por Laser: Utiliza fibras ópticas para direcionar o calor via energia laser, resultando em necrose coagulativa do nódulo.
- Ablação por Etanol (PEI): Nesta técnica, principalmente indicada para cistos, o álcool absoluto é injetado no nódulo, levando à destruição química das paredes do cisto e rápida regressão do volume.

O procedimento, geralmente feito com o paciente desperto sob leve sedação, dura de 30 a 60 minutos. O guia ultrassonográfico é fundamental — ele acompanha cada etapa, identifica vasos, nervos e delimita o volume a ser tratado. A imensa maioria dos pacientes pode ir para casa no mesmo dia, com orientação para repouso leve e analgesia, quase sempre de curta duração.


Com base na literatura científica, a ablação tireoidiana demonstra taxas elevadas de sucesso, especialmente no tratamento de nódulos benignos. Estudos mostram que cerca de 6 a 12 meses após o procedimento, o volume nodular reduz, em média, entre 70% e 90%, com melhora ou completa resolução dos sintomas compressivos e desconforto estético. Muitos pacientes relatam alívio praticamente imediato do incômodo local, e ficam satisfeitos com o resultado estético e funcional.
Outro ponto relevante é que a função glandular geralmente se mantém preservada. A imensa maioria não precisa de reposição hormonal após o procedimento, ao contrário do que ocorre frequentemente após tireoidectomia parcial ou total. Os índices de satisfação dos pacientes são altíssimos, conforme relatos publicados em estudos multicêntricos.
A ablação tem se mostrado promissora inclusive no controle de microcarcinomas papilíferos, com taxas de recorrência local baixíssimas quando criteriosamente indicada e bem executada. Apesar dos ótimos resultados, ressalto sempre a importância do acompanhamento contínuo, com avaliações e ultrassom periódicos para monitorar a regressão do nódulo tratado.
Em conversa com pacientes, um dos pontos de maior destaque para quem avalia a ablação é justamente o seu caráter minimamente invasivo, que contrasta fortemente com a cirurgia tradicional. Entre as principais vantagens que observo no meu dia a dia estão:
- Ausência de corte ou cicatriz visível: O procedimento é realizado por punção com agulha fina.
- Recuperação rápida: O paciente pode retomar suas atividades normais quase imediatamente, sem necessidade de internação prolongada.
- Preservação da tireoide: A glândula é mantida intacta, normalmente dispensando reposição hormonal.
- Menos complicações: O risco de infecções, sangramento ou dano a estruturas nobres (como o nervo laríngeo recorrente) é muito menor que nas cirurgias abertas.
- Custo potencialmente menor: Quando se consideram gastos hospitalares, medicações, tempo de afastamento e acompanhamento, a ablação pode ser mais econômica em muitos perfis de paciente.
Vejo grande alívio nos olhos de cada paciente ao saber que pode tratar um nódulo benigno incômodo, por exemplo, sem internação, sem cicatriz e com baixo risco de complicações. Certamente, é um ganho não só estético, mas de autoconfiança e qualidade de vida.
Nenhum procedimento médico está isento de riscos, e é fundamental que os pacientes tenham acesso a informações realistas. A ablação da tireoide é, sim, um procedimento seguro, com taxas muito baixas de complicações — especialmente se realizada por equipe experiente e com equipamentos modernos.
As complicações mais comuns são geralmente leves e transitórias: dor local, edema, pequeno hematoma, sensação de calor ou desconforto cervical. Em raras ocasiões, pode ocorrer rouquidão temporária, resultado de edema ou lesão térmica do nervo laríngeo recorrente; felizmente, a maioria dos casos se resolve espontaneamente em poucos dias a semanas.
Complicações graves, como infecção, queimaduras profundas, lesões permanentes de nervos ou fístulas, são raríssimas quando há seleção cuidadosa e execução técnica adequada. Reforço sempre a importância do preparo, do diálogo pré-procedimento e de um acompanhamento pós-ablação criterioso, para agir rapidamente em qualquer eventualidade.
A escolha pela ablação exige responsabilidade. Existem, sim, casos em que o procedimento não é indicado, seja por motivos de segurança, seja por não oferecer benefício comprovado. Entre as principais contraindicações que oriento meus pacientes estão:
Nódulos com suspeita de malignidade não esclarecida (Bethesda IV ou V sem diagnóstico definitivo);
Lesões invasivas (tumores com invasão extra-tireoidiana, presença de adenomegalias suspeitas ou comprometimento dos planos profundos);
Anatomia desfavorável, com nódulo colado a grandes vasos ou estruturas de risco;
Distúrbios graves de coagulação, que aumentam o risco de sangramento;
Dificuldade de acesso por ultrassom (em casos de tireoide retroesternal ou em pacientes com cirurgia prévia complexa no pescoço).
Cada paciente deve passar por avaliação minuciosa, com discussão multidisciplinar se necessário, para garantir que a ablação será, de fato, a melhor opção para o seu caso específico.
Poucas áreas da endocrinologia e cirurgia causam tantas dúvidas quanto a saúde da tireoide. Compilando as questões mais comuns do consultório e inserindo minha visão pessoal, gostaria de abordar:
- É doloroso fazer ablação? – A maioria dos pacientes tolera muito bem o procedimento, realizado com anestesia local e/ou sedação leve. O desconforto costuma ser mínimo e controlável.
- Quanto tempo dura o procedimento e a recuperação? – O procedimento leva menos de uma hora e, em geral, a recuperação é praticamente instantânea. Recomendo repouso restrito apenas no dia do procedimento.
- Vou precisar tomar hormônio depois? – Raramente. A glândula praticamente sempre mantém sua função íntegra.
- A ablação elimina completamente o nódulo? – O volume reduz drasticamente na maioria dos casos, aliviando sintomas e melhorando o aspecto estético. Pequena parte do nódulo pode, porém, permanecer no ultrassom, sem causar problemas.
- O nódulo pode voltar? – Recidivas não são frequentes, principalmente em nódulos benignos; em raras situações, pode haver necessidade de reablação.
- Existem limitações de tamanho? – Grandes nódulos podem demandar mais de uma sessão, mas a ablação é viável na vasta maioria dos casos benignos.
Acredito que o tratamento da tireoide vai muito além do bisturi; trata-se de escutar, acolher e enxergar possibilidades personalizadas para cada história. Seja por ablação, cirurgia convencional ou apenas observação, o caminho deve ser construído sempre em parceria — respeitando expectativas, ciência e individualidade.

A ablação de lesões tireoidianas é um exemplo inspirador de como a tecnologia pode transformar, de forma positiva, a vida dos nossos pacientes. Como especialista, sinto-me verdadeiramente privilegiado em poder oferecer alternativas menos invasivas, seguras e eficazes. Essa abordagem demanda preparo, atualização e constante diálogo com o paciente — princípios que levo como norte em minha prática clínica.
Se você ou alguém próximo enfrenta um diagnóstico de nódulo ou doença da tireoide, busque informação qualificada e compartilhe suas dúvidas. A ablação pode ser uma alternativa revolucionária para inúmeros casos, e conversar abertamente com um cirurgião especialista é o primeiro passo para uma escolha segura e confiante.
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